Família

Carol Moreira

Família - Martinho Campos
Carol cresceu no Sítio Moinho, aqui bem do ladinho de casa. Sempre fomos amigos unidos por uma conexão incrível! Íamos pra escola juntos e até os atrasos eram sincronizados. Até as faltas, na verdade. Não era raro topar lá na esquina de manhãzinha começando o diálogo com "pô, ontem não deu pra ir escola." e o outro emendar "uai, você também não foi?". Essa conexão ainda existe nos dias de adultos; como melhores amigos, compartilhamos da mesma euforia, dos mesmos anseios e da mesma dor muitas vezes. 

Nossas vidas seguiram caminhos únicos: quando ela tava quase passando no vestibular pra medicina, nós fomos prum show pra aliviar; quando eu virei pai, ela já sabia que seria psiquiatra; quando ela passou na residência, fui o primeiro a saber e já precisava duma psiquiatra! Aí o momento hard level adulto chegou pra Carol: casar, formar, ser mãe, montar consultório. Melhor jeito de lembrar dessas fases é registrando com fotografia. E, nesse ponto da vida, eu já estava fotografando várias histórias mundo afora. 

Primeiro ensaio que fiz da Carol era pra ser das roupas que ela e a Ju, a irmã, criaram. Não, eram cangas, Maracangalha. Não rolou e virou um ensaio pessoal, também registrando uma transição. Acho que era liberdade.

Geralmente, pessoa entendida de arte, de berço, manja de música, literatura, cinema, costuma botar um medinho na hora de criar, de dirigir. Medo só meu, porque ela sabe o que quer já. Exigiu luz natural, deixei meus flashes em casa. Tudo tinha que fazer sentido pra esse ensaio: a terra, com a mesma cor e cheiro da infância; a luz, tão pontual e fiel em todas as épocas do ano; as cores, naturais, vivas, realçando cada pingo de vida do sítio. Até a lua apareceu nesse dia pra lembrá-la, mais uma vez, de como aquele lugar está pronto pra recebê-la em qualquer fase da vida. 

Agora é esperar o José pra comer dessa terra, pra panhar laranja no pé, correr e levantar poeira, brincar com a Babalu e/ou sua prole, e também cravar suas raízes ali, criar suas próprias conexões. Espero estar lá em todas essas fases com um copo na mão. Ah, e com a câmera também.