Eu sempre pensei que eu seria desses servidores públicos que ganham muito e fazem pouco, até pela facilidade que eu sempre tive de adentrar certos meios e de atingir certas posições. Por exemplo, fiz faculdade de graça porque tirei nota altíssima no ENEM, aí ganhei PROUNI. Inclusive, com aquela nota, eu poderia ter escolhido algo como medicina em alguma faculdade privada de BH. Mas, por não ter condições de me manter em outra cidade, nem pensei 2x e fui pra Engenharia Ambiental, que à época, eu achei que seria O curso e A profissão do futuro da humanidade.
Depois fui conseguindo outras coisas também, como ser sócio da mts, que me dava vários tipos de confortos. E eu já era servidor público, ganhava bem e não fazia lá muito coisa. Sempre ocupei topos de listas de preferências de amigos, de rodas, de profissões, de melhores alunos, essas coisas. Engraçado que só eu não acreditava e não achava que fazia jus a tais posições.
Mas, se formos olhar desde o início da minha vida adulta, essa capacidade de adaptar, se virar, sempre esteve aqui. Eu comprei meu primeiro cd, oasis, com dinheiro de vender picolé. Depois, aos 14, dei aula de inglês na escolinha da minha tia e consegui comprar mais cd’s. E muita cerveja! Na CEDAF (ah, passei lá em 2o lugar, escola federal, sem nem saber que era escola agrícola), eu fui monitor de inglês e de… matemática! E tinha bolsa pra isso. Lá me tornei membro do grêmio estudantil (minhas raízes políticas não são segredo), montei uma banda de rock e tinha vida social bem ativa e feliz.
Quando voltei pra Badia, era muito admirado na sala por ser julgado inteligente, mas, na verdade, eu só tinha aprendido tudo aquilo ali já. E formava rodas e rodas de casos e teorias e palestras. E ali as pessoas já depositavam todo tipo de esperança: esse aí vai rodar o mundo, vai conquistar o mundo. E eu só queria beber cerveja com o Rojas e o Paina.
2003 chega, eu já com ensino médio, queria muito mudar pra BH, fazer cursinho e estudar jornalismo. Era isso que eu queria! Acabei indo pra Itaúna estudar direito. Passei em 2o lugar no vestibular, fui um aluno regular, fazia muita farra, tinha muitos amigos e já era apontado pra ser desembargador, porque, lembram né, as pessoas me colocavam nessas posições. E as pessoas são loucas!
Na mts, total zona de conforto, eu perdi um pouco da noção das dificuldades da vida e achei que seria aquela vida boa pra sempre. A depressão e a ansiedade cada vez mais presentes me mostrando que dinheiro não resolve tudo, saúde de lado, colesterol alto, cabeça vazia. Eu saí dessa sociedade porque 1, crise hídrica em São Paulo diminuiu muito nossos trabalhos, 2, conheci a fotografia.
Quando peguei na câmera a primeira vez foi uma loucura! Preencheu o espaço vazio que a crise em SP tinha me imposto, me colocou em contato pela primeira vez com a arte, a criação em si, e, também no início, me mostrou que tinha como receber uns trocados pra fazer aquilo que eu tinha acabado de conhecer: fotografia/arte. Não hesitei em me exonerar daquele cargo público que eu segurei por uns anos, de, finalmente, oficializar minha saída da mts, e de meter a cara de verdade numa coisa que poderia ser minha, com minha essência, com meu sangue e meu suor.
E nessa época eu poderia cravar de verdade que aquilo tinha minha cara, minha escolha, minha necessidade. E EU consegui fazer tudo sozinho, estudar, conquistar clientes, ganhar admiração, por mais que fosse simples no início, poucos equipamentos, mas, enfim, o início de uma coisa. É claro que não foi sozinho, tenho uma esposa que me apoia em tudo, uma família que incentiva, mas vocês entenderam.
A evolução da carreira é como qualquer outra, cheia de percalços e marcada por erros e acertos, mas uma coisa foi certa desde o início e é sobre isso que eu queria falar hoje: eu acreditei! Eu acredito! A depressão veio da pior forma, me colocando totalmente cego pra algumas coisas, principalmente financeiras, porque, quando percebi, eu já tinha vendido lote, carro e casa. Isso pra não ter porra nenhuma em troca! Aliás, tive sim, descobri que são pouquíssimas as pessoas desse mundo que estão ali de verdade por você. Mas divago.
E, que coisa, né, hoje, com minha profissão, meu negócio, minha marca, eu ocupo novamente posições no topo. E estar nesse lugar me dá visão pra tentar ser um marido melhor, um empresário melhor, um pai melhor, um amigo melhor. Tudo com minha marca, minhas escolhas. E se tive todos esses percalços, perdas e erros, foi porque, em primeiro lugar, eu acreditei e acredito nisso que estou fazendo.
Aos 37 anos de idade eu não tenho certeza de nada do que virá, somente de que amo demais o que faço e que vou me dedicar cada vez mais, para trabalhar menos e ganhar mais, pra curtir a vida e pra, quem sabe, atender àquelas expectativas lá atrás de rodar o mundo, conquistar o mundo. Na maior parte do tempo acho que já estou velho demais pra conseguir alguma coisa grande na vida. Por outro, lembro de todos os sentimentos que tinha aos 15, quando estava lá na casa do Rojas chupando laranja e ouvindo Nirvana, e penso que ainda sou tão novo, tão cru, que ainda tem todo um caminho pra conquistar.
Não se espante se um dia eu vender tudo que tenho aqui e sair do país com minha família e uma câmera na mão, pra descobrir uma nova profissão, um novo país. Só sei que vou continuar cuidando das minhas meninas com toda honra e responsabilidade, mas que a câmera não sai mais da minha mão, porque fotógrafo é o que sou, não o que faço.